4 - E no Brasil?
Como não encontramos estatísticas oficiais do setor, em pesquisa no site consumo colaborativo, identificamos 128 empresas cadastradas com atuação on-line, sendo 25 estrangeiras localizadas para a língua portuguesa e 88 empresas com matriz no Brasil. No entanto, 13 destas fecharam as portas recentemente, restando 75* empresas brasileiras ativas no setor. (* coworkings não entraram na estatística).
Das fechadas, destaque para a Tripda, plataforma de compartilhamento de caronas e case de sucesso ao receber aporte de US$ 11 milhões em 2015. O que aconteceu de errado com ela?
As empresas de maior sucesso na economia compartilhada tendem a ser aquelas que conseguem tornar o processo tão eficiente e fluido para que a experiência na transação seja a melhor possível. Só isso basta? Não, tem que rentabilizar o valor percebido pelos interessados na transação (clientes e/ou fornecedores). Foi nesse ponto que o modelo de negócio do Tripda necessitava de correção de rota.
5 - Mainstream ou Hipster?
Em função da alta mortalidade de empresas no setor, já existem vozes questionando a viabilidade do modelo, como Sarah Kessler (FastCompany) em artigo de título provocador:
A Economia Compartilhada está morta, e nós que a assassinamos.
Sarah afirma que as pessoas amam o conceito de compartilhar, seja pelo potencial de economia, consciência ecológica ou mesmo como integração social, no entanto, apesar das declaradas intenções, há certa resistência na adesão, dependendo do produto ou serviço transacionado. Quantas pessoas estão realmente alugando/emprestando furadeiras?
Conveniência, boa experiência e alterações no modelo de negócio podem fazer a diferença entre o fracasso e o sucesso. Como exemplo, a Parking Panda, especializada em compartilhar vagas para veículos, só vingou quando priorizou no compartilhamento de vagas ociosas de empresas (como restaurantes, hotéis etc) no lugar das residenciais.
Outro ponto polêmico desse novo mercado refere-se à legislação e taxação. Como ainda não se aplicam à regulação vigente, pairam no ar polêmicas de concorrência desleal e de potencial criação de novos monopólios.
Apesar dos percalços e incertezas, as tendências apontam para um futuro auspicioso. De acordo com a consultoria PwC, em 2025 o setor de economia compartilhada ultrapassará em valor o setor de locação tradicional, ambos projetados em US$ 335 bilhões.
6 - Impacto nas empresas
Já vemos impactos nas empresas em função dos mesmos fundamentos que promovem a economia on-demand. Cushman & Wakefield, Jones Lang LaSalle e CBRE Group, maiores consultorias em serviços imobiliários globais, já constatam mudanças na demanda por imóveis comerciais e se preparam para ganhar escala para atuar em um mercado mais dinâmico, como o compartilhamento de escritórios.
A Fusão da Cushman com a DTZ em setembro de 2015, consolida 43 mil funcionários na administração de 4,3 bilhões de metros quadrados de imóveis. Recentemente apresentou relatório O futuro do local de trabalho nas empresas de mídia, tecnologia e telecomunicações, que aponta cinco forças atuantes no setor.
Cinco forças propulsoras por mudanças no mercado de trabalho
I - Transformação: aumento na velocidade de adoção de novas tecnologias e na redução do ciclo de vida dos produtos induzem as empresas em acompanhar essa dinâmica tanto nos locais quanto com as equipes de trabalho.
II - Inovações disruptivas: demandam adaptações no paradigma "tecnologia se move rapidamente, imóveis não". As empresas estão buscando agilidade imobiliária de forma a se adaptar de acordo com a demanda de recursos humanos. Essas inovações também tendem a nublar as fronteiras entre os diferentes tipos de negócios, onde Google tende a ofertar carros autônomos, o Facebook, infraestrutura de telecomunicações, entre outros exemplos.
III - As cidades e seus ecossistemas: oferta de educação, fomento ao empreendedorismo e redes estabelecidas em cada setor atraem cada vez mais empresas para novas cidades e novas localizações, que necessitam atuar em rede de cidades mais pulverizadas e ao mesmo tempo interligadas.
IV - Mercados emergentes: a mudança no eixo econômico gera enormes oportunidades de crescimento de consumo e na oferta de talentos. Pensar e agir cada vez mais local é a ordem da vez.
V - Atração de talentos: a alta demanda por funcionários qualificados impacta nas decisões de localização e estrutura disponíveis para o trabalho, assim como disponibilização de cargos de gerência cada vez mais independente da idade.
Seguindo essa tendência, a nova matriz da Samsung na Califórnia levou em consideração conceitos de neurociência, psicologia e antropologia para criar um prédio que maximizasse as experiências e interações entre os funcionários. O prédio de vidro permite visão e ambientes abertos, tanto entre departamentos quanto entre andares.
Alta ociosidade de utilização dos espaços
corporativos é mais a regra do que exceção
Observa-se, também, crescimento considerável na quantidade de empresas com ociosidade média de 50% em sua estrutura, isso é, com pelo menos metade das mesas vazias ao longo de um dia típico.
Assim, a necessidade de flexibilidade se torna cada vez mais crítica, demandando ajustes à altura das dinâmicas de comportamento do mercado. Como resultado, a conversão e alinhamento das estratégias de RH e relativas à empregabilidade estão cada vez mais influenciando e direcionando as estratégias corporativas, com a tendência de revolucionar o espaço de trabalho.
Grandes corporações se transformarão em
HUBs integradores de conhecimento
Também ocorrerá proliferação de empresas menores e mais ágeis, especializadas e atuando em rede entre si e com as maiores. Espera-se ecossistemas complementares e com alta mobilidade entre seus componentes.
7 - O que as empresas tem feito?
Praticamente reinventando o espaço corporativo.
I - Adoção do home office parcial. Trabalhar de casa aumenta a performance, no entanto trabalhar em grupo torna os funcionários mais colaborativos e inovativos. O ideal é ter o melhor dos dois mundos. com a equipe tendo autonomia para trabalhar de qualquer lugar, mas mantendo frequência nos encontros entre times. O site FlexJobs constatou aumento de 36% na oferta de vagas em home office no último ano (em universo de 40 mil empresas de seu banco de dados, com vagas em home office, parcial ou total).
II - Abolição de lugares fixos nos escritórios. Em média um funcionário de laje corporativa ocupa 15 m2 quando possui lugar fixo. Com lugar livre, esse número cai para 13 m2 ou menos. Pernod Ricard, Unilever, Siemens, Votorantim Cimentos e AES Eletropaulo já são adeptas do formato no Brasil. No novo escritório da consultoria EY (Ernst Young), os quase 3 mil funcionários têm que reservar seu lugar para trabalhar em terminais, por períodos que variam de horas até uma semana.
III - Locação de espaços ociosos. Empresas de pequeno e médio portes, até 500 funcionários, estão alugando baias, salas, ou mesmo andares sub-utilizados. Como exemplo, Hamilton Bradshaw, usa sites como Hubble, LiquidSpace e ShareDesk como canal de locação para rentabilizar sua operação.
IV - Alocação de funcionários em coworking. Empresas que migraram para essa modalidade tem demonstrado ganhos de produtividade acima do esperado. Startups e profissionais liberais sempre foram atraídos pela flexibilidade e cultura dos coworkings, no entanto cada vez mais empresas de grande porte tem enxergado valor nesse formato, como KPMG, General Electric e Merck. Nenhuma no Brasil. Falta de potencial ou oportunidade não explorada? Hipótese a testar. WeWork, a maior representante no setor de coworking, avaliada em US$ 16 bilhões, tem arrojado plano de crescimento. Quem sabe em breve contaremos com sua presença em terras tupiniquins...
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