Os mapas de Game of Thrones, Epidemiologia e Geomarketing:
O Mapa do Trono
Na épica saga de Game of Thrones, Jon Snow desenvolve estratégias, campanhas e abordagens inusitadas para unificação dos sete reinos de Westeros e, pensando nesse número cabalístico, encontram-se 7 fatores relevantes para o sucesso de sua empreitada:
1. Valores (princípios) Reconhecidos e admirados por todos, a coerência é uma potente atração de respeito, e Jon Snow, acertando ou errando, segue sua inabalável crença.
2. Reputação (imagem percebida)
Jon é moralmente irretocável. Aliados e inimigos o respeitam pela sua fala e, acima de tudo, pelos seus atos e exemplos. Com isso foi ganhando espaço no tabuleiro.
3. Time (equipe)
Ninguém é bom em tudo e Jon sabe buscar aliados que compensem suas fraquezas. A construção de um dream team demanda tempo, mas nada do que algumas "séries" não resolvam.
4. Liderança
Os líderes são responsáveis por engajar pessoas, alinhar esforços, motivar na adversidade e solucionar conflitos. É ele que promove o movimento, as mudanças e o novo. Sem liderança, não há mudança. E Jon entende seu papel neste xadrez.
5. Visão (glimpse, vislumbre)
A habilidade de prever e interpretar objetivos e missões está ligada à sensibilidade e empatia para leitura de personalidades e cenários. Jon parece, em vários momentos, sofrer com e pelos outros, mas transforma potencial desvantagem em poderosa arma.
6. Ação
Os louros só estão disponíveis à aqueles que lutam pelo que acreditam e, saber usar o poder conquistado, no timing certo, é tão ou mais importante quanto ter este poder.
7. Estratégia
Potência sem direção é risco e destruição. Uso dos instrumentos disponíveis de maneira ótima. A organização e planejamento são essenciais para se estabelecer prioridades, programar atividades, delegar responsabilidades e atingir o objetivo.
Jon Snow se baseia em mapas personalizados (mapas temáticos) dos sete reinos de Westeros para suportar estratégias de campanhas militares ou expedições além muralhas. Na medida em que as guerras evoluem, as rainhas Daenerys e Cersei, também passam a avaliar suas estratégias ao lado de grandes mapas, antes de cada batalha.
Todos procuram usar a localização, posicionamento e relação entre ambiente, castelos, inimigos para explorar as melhores oportunidades de ação no território, e a otimização dos recursos disponíveis em cada lado. Mas é Jon Snow quem, até o momento, tira melhor proveito migrando do tabuleiro para a realidade efetiva.
O Mapa da Morte
Em meados do século XIX, a Londres vitoriana era a maior cidade do planeta e abrigava 2,5 milhões de habitantes. Os dejetos humanos ficavam em fossas nas casas ou na rua, com cavalos, vacas e outros animais convivendo, infestando o ar e o solo como se fosse uma peste.
"A revolução industrial induziu a um explosivo crescimento
demográfico nas cidades. Enquanto a população mundial
duplicava, a urbana quintuplicava"
Dezenas de milhares de pessoas morriam em epidemias a cada 4 ou 5 anos. Sem provas do contrário, as autoridades concluíram que a contaminação ocorria pelo ar, sem saber que o verdadeiro vilão se escondia na água, invisível a olho nu, e atendia pelo nome de Vibrio cholerae.
No meio de toda esta confusão apareceu John Snow, médico e astuto observador, morador no bairro do Soho. Por vários anos acreditava em outra teoria para as mortes e ninguém lhe dava ouvidos.
"O tempo é implacável: uma boa ideia, para aqueles que nela
trabalham exaustivamente, em algum
momento, prevalece sobre ideias ruins"
Em 28 de agosto de 1854 um bebê contraiu cólera na rua Broad, bem no meio do Soho. Após sua mãe colocar de molho os panos sujos usados pela filha, despejou a água contaminada do balde em uma fossa em frente à casa, que se infiltrou no piso e assim contaminou a bica d'água, a poucos metros dali.
A bomba da Broad Street tinha, reconhecidamente, a melhor água do Soho, atraindo muitos usuários. Iniciava-se ali uma das grandes chagas da cidade. Literalmente, 10% do bairro morreu em sete dias.
John, ao saber da epidemia, iniciou uma espécie de rastreamento visando encontrar a origem do problema e estudar a doença. Com a ajuda do clérigo local, Whitehead, segmentou quem bebeu água da bomba e quem não bebeu. Descobriu que a maioria das pessoas que beberam dela, contraíam a doença. Aqueles que não beberam, não ficaram doentes.
Sobre esta constatação, John sabia que precisava fundamentar a sua descoberta. Fez um mapa "temático", com as mortes, representadas por barras pretas, em cada residência. A conclusão fala por si: a bica d'água da Broad Street, no centro do mapa era o epicentro da epidemia. Quanto maior a distância da bomba, menor a freqüência de mortes.
John andou a pé pelo bairro e desenhou uma linha delimitando a distância de melhor alcance (em minutos) para chegar até a bomba da Rua Broad, comparado a outras bicas da vizinhança (bolas azuis, no mapa abaixo), representado nos diagramas de Thiessen/Voronoi (visão aérea).
Demorou praticamente uma década para que as suas descobertas fossem entendidas e aceitas, uma vez que a maioria dos cientistas acreditavam na transmissão pelo ar e não pela água. Já na epidemia seguinte, em 1866, as autoridades já haviam se convencido que, de fato, o problema estava na água. Com a construção de esgotos e tratamento da água, ocorreu a última epidemia de cólera na cidade. O trabalho de John Snow foi tão relevante que ele entrou para a história como o pai da Epidemiologia através do rastreamento geográfico e da identificação do paciente zero.
O Mapa do Marketing
Em 2019, táticas e estratégias empresariais para a conquista de mercado procuram usar a avalanche de dados e informações disponíveis, assim como de algoritmos sofisticados com processamento em nuvem.
Conceitos como aprendizagem de máquina e inteligência artificial passaram a fazer parte do desejo de 10 em cada 10 empresas, mas, na prática, ainda restrito a poucas empresas.
Hoje, todo negócio é um negócio de dados e, as empresas que não conseguirem tirar proveito dessa janela de oportunidade, possuem grande probabilidade de ficarem obsoletas. As que tiverem insights consistentes e que aprimoram suas decisões e processos através do uso criativo e intensivo de dados, certamente sobreviverão.
Informações possuem potencial para exercer um efeito transformador nos negócios, mas apenas se as pessoas souberem como usá-las e entenderem a situação e, assim, contar estórias que façam sentido.
Saber interpretar o significado dos dados é a chave das boas decisões. Assim, o Geomarketing passa a ser um instrumento poderoso para constatar, planejar e desenvolver ações consistentes. Isso significa minimização de riscos e eficiência no planejamento de estratégias e táticas de mercado.
O Geomarketing permite a constatação de um número imenso de variáveis, como, por exemplo:
Identificação de gaps - regiões onde meu produto ou serviço não está disponível, ou seja, oportunidades de negócio não aproveitadas.
Abertura de novas lojas
Otimização de territórios de vendas
Avaliação de canais de distribuição
Atuação da concorrência
Evolução regional
Assim, muito mais do que ferramentas, o bom uso do Geomarketing contribui para o entendimento do core business das empresas e na condução de consultoria de negócios com reais impactos na otimização de resultados.
A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo Peter Druker
Como visto nas estórias relatadas acima, os geos ...... mostram diferentes possibilidades de resolução de problemas complexos, ou difusos, com o uso de inúmeras variáveis necessárias a qualquer processo de decisão consistente.
Seja nas guerras militares, biológicas ou de mercado, este é o legado do bom uso de informações para o desenvolvimento de estratégias e planos de ação baseados em mapas.
Um médico inglês do século 19, um rei de Game of Thrones e o uso de estratégia em Marketing, tem toda a correlação. Mapas, isoladamente, apenas levam a algum lugar. Quando correlacionados a dados e informações consistentes e organizadas, passam a ser excelentes pontes para a criação de um futuro melhor.
Padrões geográficos de ligações telefônicas (elogios, reclamações, dúvidas etc) para uma central de SAC.
Grato pela leitura e seja sempre bem vindo(a)